A inteligência, a hereditariedade e o meio

 

Inteligência, hereditariedade e meio

 

Quase todos os psicólogos concordam em que a hereditariedade e o meio são importantes na determinação do nível de inteligência de cada indivíduo. As discordâncias surgem quanto ao peso relativo de cada um dos factores. No entanto, actualmente os psicólogos tendem a interessar-se mais pelo modo como os dois factores interagem do que pela questão de qual é mais importante. Mais importante do que a competição entre o inato e o adquirido é a sua interacção.

Quando se coloca o problema do peso relativo da influência do património genético e do meio na determinação da inteligência, a questão é traduzível nos seguintes termos: herdamos essencialmente dos nossos progenitores o nosso nível intelectual ou é este fundamentalmente determinado pelos factores ambientais e educativos?

 

Provas do papel importante da hereditariedade na determinação da inteligência

 

1-  O Q.I. de gémeos idênticos educados no mesmo meio apresenta mais semelhanças do que o Q.I. de gémeos dizigóticos, de irmãos e de irmãs e de primos.

Assim, quanto maior é a semelhança genética entre os indivíduos tanto mais semelhante é o seu Q.I. O Q.I. de gémeos idênticos educados juntos apresenta uma correlação de +0.90, enquanto o de irmãos apresenta uma correlação de +0.50 e o de primos de +0.15.

Uma vez que os gémeos idênticos são intelectualmente mais parecidos do que os gémeos dizigóticos e desenvolvendo-se ambos os tipos de gémeos em condições ambientais semelhantes, concluem os investigadores que as diferenças quanto ao nível de inteligência evidenciam o papel da hereditariedade.

2- O Q.I. de crianças adoptadas assemelha-se mais ao dos pais biológicos do que ao dos pais adoptivos.

Se a inteligência não fosse fortemente influenciada por factores genéticos, biológicos, o Q.I. das crianças adoptadas estaria mais próximo do Q.I. dos seus pais adoptivos.

A correlação entre o Q.I. de crianças adoptadas e o dos pais biológicos é de + 0.40 a +0.50, ao passo a correlação entre o Q.I. de crianças adoptadas e o dos pais adoptivos é de +0.10 a +0.20 (Jenks, 1972; Munainger, 1978). Quanto maior a correlação mais forte a relação entre as variáveis. Neste caso, há uma maior relação entre hereditariedade e inteligência do que meio e inteligência.

 

 

3- O Q.I. de gémeos idênticos (que têm exactamente os mesmos genes) separados à nascença ou pouco depois é muito semelhante ao de gémeos idênticos educados juntos.

Este tipo de estudos é muito valorizado pelos geneticistas do comportamento. Com efeito, estudar gémeos idênticos (que herdam os mesmos genes) educados e criados em ambientes familiares e socioculturais diferentes e, por vezes, extremamente opostos é considerada a melhor forma de separar as contribuições relativas da hereditariedade e do meio. Tal situação é importante porque se estabelece, em princípio, um contraste entre a identidade genética de cada par de indivíduos e a dissemelhança ambiental em que cada membro do par cresce e é educado. Quando, neste caso, tais gémeos apresentam grandes semelhanças nas suas características conclui-se que a influência hereditária é bastante forte e decisiva. Se os gémeos idênticos dispersos por diferentes ambientes revelarem diferenças significativas quanto a determinada característica conclui-se que há forte influência do meio.

 

 

 

Provas do papel importante do meio na determinação da inteligência

 

1- Os estudos com gémeos monozigóticos revelam que os gémeos idênticos criados juntos apresentam um nível intelectual superior ao de gémeos idênticos separados à nascença (ou pouco depois) e educados em meios distintos.

Assim, os mesmos tipos de estudos que evidenciam o papel relevante da hereditariedade também mostram a importante influência do meio.

 

2- Crianças sem qualquer parentesco que são educadas no mesmo ambiente familiar (estudos de adopções) revelam uma significativa semelhança quanto ao seu Q.I.

 

3- A média dos resultados em testes de Q.I. aumentou substancialmente um pouco por todo o mundo nas últimas décadas.

Assim, na Holanda, entre 1972 e 1982, o Q.I. médio aumentou mais de oito pontos. Como é muito pouco provável que tal se deva a transformações hereditárias radicais ocorridas durante este período, a hipótese explicativa mais razoável é a de que o aumento do Q.I. médio se deva às alterações ambientais (a crescente urbanização, o papel informativo da televisão e de outros “media”, uma melhor nutrição, melhores oportunidades no que respeita à obtenção de educação, aumento da escolaridade obrigatória e aumento geral do nível socioeconómico das populações). Quanto a este último aspecto, considera-se que a pobreza e o Q.I. estão ligados, ou seja, que indivíduos pertencentes a meios economicamente desfavorecidos têm um Q.I. mais baixo do que indivíduos pertencentes a meios economicamente favorecidos.

 

 

 

 

Conclusão:

Impõe-se actualmente a convicção de que a hereditariedade estabelece certos limites intelectuais ao determinar o potencial genético, mas que dentro desses limites não há fronteiras fixas, sendo o meio o responsável pela sua ultrapassagem ou não.

O grau de estimulação fornecido pelo meio em interacção com o potencial genético influencia, tanto quanto podemos saber, a capacidade a que de modo pouco definido chamamos inteligência. Esta desenvolve-se, não é rigidamente fixada pela hereditariedade. O exemplo seguinte, embora limitado à noção de Q.I. – esta cobre somente aspectos da inteligência -, tornará compreensível o que acabámos de dizer:

“Imaginemos que três crianças começam a vida com diferentes heranças genéticas (genótipos) no que respeita à inteligência: uma reduzida, a segunda mediana e a outra elevada. Os diferentes níveis de competência intelectual que realmente actualizarão (os fenótipos), enquanto medidos por testes de Q.I. dependerão do modo como é estimulado o desenvolvimento intelectual de cada criança, das experiências vividas desde o momento da concepção, das condições criadas pela família, pela escola e pela comunidade.

Assim sendo, em ambiente rico em estímulos culturais e intelectuais, a criança com menores dotes genéticos pode atingir um Q.I. na realidade igual (ou mesmo um pouco superior) ao da criança cuja herança genética é mediana, mas que se desenvolve num meio cultural economicamente pobre, abaixo da média. Contudo, não podemos esperar que o Q.I. dessa criança geneticamente desfavorecida igual e o da criança geneticamente muito favorecida ou dotada porque isso está para além do nível máximo de funcionamento intelectual que lhe e possível. A hereditariedade estabelece limites ao modo como utilizamos os instrumentos culturais que o meio coloca ao nosso dispor.”


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