Piaget e os estádios
Estádio Sensório-Motor (0 aos 2 anos)
Estádio em que a inteligência se adapta ao meio essencialmente através de esquemas sensório-motores (actividade perceptiva e actos motores). É o estádio da inteligência prática.
No início, as respostas do bebé são essencialmente reflexas, automáticas. A criança repete acções não apreendidas em virtude do resulatdo satisfatório que as acompanha. Já não se trata de um acto puramente reflexo.
Progressivamente o comportamento vai-se tornando menos repetitivo e surge o comportamento experimental: adaptação do comportamento a situações específicas de forma intencional e mediante do método "ensaio e erro".
Há, portanto, uma inteligência anterior ao pensamento e à linguagem, a inteligência prática, baseada nas consequências das acções. A grande aquisição do estádio sensório-motor é o conceito de objecto permanente ou de permanência do objecto, sinal da emergência da capacidade de representação simbólica. A inteligência prática dá lugar à inteligência representativa (interiorização simbólica das acções, isto é, capacidade de resolver mentalmente problemas e de usar a linguagem), iniciando-se o estádio pré-operatório.
Estádio Pré-Operatório (2 aos 7 anos)
É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objecto ou acontecimento por uma representação. Esta substituição é possível graças à função simbólica. A criança já não depende unicamente de suas sensações, dos seus movimentos, destinguindo uma imagem, palavra ou símbolo daquilo que ele significa (o objecto ausente). Este estádio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica. Divide-se em duas etapas:
1. O pensamento préconceptual - imagens mentais sem conceitos. Nesta fase (dos 2 aos 4 anos) o pensamento é dominado pela imaginação e pela fantasia.
2. O pensamento intuitivo - centrado na percepção e não na imaginação, logo é menos egocêntrico, mas pouco flexível, preso aos acontecimentos particulares, às impressões sensíveis (dos 4 aos 7 anos)
Contudo, a actividade Sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e percepções intuitivas.
A criança é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstractamente, no lugar do outro, não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação, já pode agir por simulação, "como se", possui percepção global sem discriminar detalhes e deixa-se levar pela aparência sem relacionar fatos. Podemos dizer que a criança e egocentrista da sua maneira ou seja, implica a ausência da necessidade, por parte da criança, de explicar aquilo que diz, por ter certeza de estar a ser compreendida. Da mesma forma, o egocentrismo é responsável por um pensamento pré-lógico, pré-causal, mágico, animista e artificialista. O raciocínio infantil não é nem dedutivo nem indutivo, mas transdutivo, indo do particular ao particular; o juízo não é lógico por ser centrado no sujeito, em suas experiências passadas e nas relações subjetivas que ele estabelece em função das mesmas. Os desejos, as motivações e todas as características conscientes, morais e afetivas são atribuídas às coisas (animismo). A criança pensa, por exemplo, que o cão ladra porque está com saudades da mãe. Por outro lado, para as crianças até os sete ou cinco anos de idade, os processos psicológicos internos têm realidade física, ou seja, os pensamentos estão na boca ou os sonhos estão no quarto. Dessa confusão entre o real e o irreal surge a explicação artificialista, segundo a qual, se as coisas existem é porque alguém as criou.
Do ponto de vista do juízo moral observa-se que, a princípio, a moral é totalmente heterônoma, passando a autônoma na medida em que a criança começa a sair do seu egocentrismo e compreender a necessidade da justiça equânime e da responsabilidade individual e coletiva, independentes da autoridade ou da sanção imposta.
Estádio das Operações Concretas (7 aos 12 anos)
Para Piaget é neste estádio que se reorganiza verdadeiramente o pensamento. É a partir do estádio anterior que as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o real com a fantasia. É neste estádio que a criança adquire a capacidade de realizar operações. Podemos definir operação como a acção interiorizada composta por várias acções e reversível pois pode voltar ao ponto de partida. A criança já consegue realizar operações, no entanto, precisa de realidade concreta para realizar as mesmas, ou seja, tem que ter a noção da realidade para que lhe seja possível efectuar as operações.
Para compreendermos qual o aspecto fundamental do período que estamos a analisar, voltamos a referir a experiência dos copos de água. Se no estádio anterior a criança não conseguia perceber que a quantidade era a mesma independentemente do formato do copo, neste estádio elas já percebem que a quantidade (volume) do líquido é a mesma, pois já compreendem a noção de volume, bem como peso, espaço, tempo, classificação e operações numéricas.
- Espaço - organiza-se pela organização diferenciada dos vários espaços. A criança vai conhecendo os vários espaços nos quais interage, organizando-os. Também aqui está presente a reversibilidade do real, onde o conceito de espaço está relacionado com o conceito de operação. O espaço isolado por si só não existe.
- Tempo - não há reversibilidade do real, o tempo existe apenas no nosso pensamento, os acontecimentos sucedem-se num determinado espaço, e o tempo vai agrupando-os.
- Peso - para que a criança domine este conceito é fundamental que compare diversos objectivos para os poder diferenciar.
- Classificação - primeiro a criança tem que agrupar os objectos pela sua classe e tamanho, depois os classificar e consequentemente adquirir conceitos.
- Operações numéricas - primeiro a criança aprende o conceito de número e seriação, por volta dos sete anos, depois a classificação da realidade, mas essa classificação vai variando conforme a aprendizagem que ela vai fazendo ao longo do tempo.
Apesar de neste estádio a criança já conseguir efectuar operações correctamente, precisa ainda de estar em contacto com a realidade, por isso o seu pensamento é descritivo e intuitivo /parte do particular para o geral). Ao longo deste período já não tem dificuldade em distinguir o mundo real da fantasia. A criança já interiorizou algumas regras sociais e morais e, por isso, as cumpre deliberadamente para se proteger. É nesta fase que a criança começa a dar grande valor ao grupo de pares, por exemplo, começa a gostar de sair com os amigos, adquirindo valores tais como a amizade, companheirismo, partilha, etc., começando a aparecer os líderes.
Progressivamente a criança começa a desenvolver capacidade de se colocar no ponto de vista do outro, descentração cognitiva e social. Nesta fase deixa de existir monólogo passando a haver diálogo interno. O pensamento é cada vez mais estruturado devido ao desenvolvimento da linguagem. A criança tem já mais capacidade de estar concentrada, e algum tempo interessada em realizar determinada tarefa.
Estádio das Operações Formais (dos 11/12 aos 15/16 anos)
A transição para o estádio das operações formais é bastante evidente dadas as notáveis diferenças que surgem nas características do pensamento. É no estádio operatório formal que a criança realiza raciocínios abstractos, não recorrendo ao contacto com a realidade.Deixa o domínio do concreto para passar às representações abstractas e é nesta fase que desenvolve a sua própria identidade, podendo haver, neste período problemas existênciais e dúvidas entre o certo e o errado. A criança manifesta outros interesses e ideais que defende segundo os seus próprios valores e naquilo que acredita.
O adolescente pensa e formula hipóteses e estas capacidades vão lhe permitir definir conceitos e valores como por exemplo estudar determinada disciplina. A adolescência é caracterizada por aspectos de egocentrismo cognitivo, pois o adolescente possui a capacidade de resolver os problemas que por vezes surgem á sua volta.
Artigos
Inconsciente: Freud versus Jung
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A maternidade causadora de transtornos psicológicos a partir da infância
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