Freud e o Desenvolvimento Psicossexual II

 

    Estádio oral (do nascimento aos 12-18 meses)

    É levando os objectos à boca que o bebé explora o meio envolvente. A sucção, necessária à alimentação, emancipa-se progressivamente dessa função, tornando-se por si mesma uma fonte de prazer, de gratificação libidinal. Com a dentição, a actividade oral diversifica-se: morder e mastigar enriquecem a panóplia de formas de exploração oral – agora mais agressiva – dos objectos.

    

        As actividades orais são também fonte de potenciais conflitos. O conflito mais significativo deste estádio tem a ver com o processo de desmame.

        Uma excessiva frustração dos impulsos erógenos ou um excesso de satisfação desses mesmos impulsos podem conduzir a um resultado semelhante: a fixação. Por fixação no estádio oral entende-se ficar psicologicamente preso a formas de obtenção do prazer que se centram na boca, nos lábios e na língua.

        Por exemplo, a criança que durante o estádio oral procura meter quase tudo o que encontra na boca pode tornar-se um adulto crédulo, que acredita em tudo o que lhe dizem, “engolindo” tudo. Ou a criança que tem grande prazer em morder pode tornar-se um adulto sarcástico, possuidor de um humor “mordaz”.

 

 

        Estádio anal (dos 12/18 meses aos 3 anos)

         A experiência marcante no estádio anal consiste em aprender a controlar os músculos envolvidos na evacuação. A criança terá de aprender que não pode aliviar-se onde e quando quer, que há momentos e lugares apropriados para tal efeito. Pela primeira vez, de forma sistemática, constrangimentos externos limitam e adiam a satisfação dos impulsos internos.

          O princípio de realidade conjuga-se com o princípio de prazer. A necessidade de adquirir hábitos higiénicos e de controlar as pulsões do Id mostra que o Ego 8comeou a desenvolver-se a partir dos 6 meses) já se formou. O conforto com as imposições paternas, o medo de ser punido e o desejo de agradar aos pais mostram que o Superego está a formar-se.

        Se a educação do asseio, isto é, se a regulação dos impulsos biológicos da criança é demasiado exigente e severa, esta pode reagir aos métodos repressivos retendo as fezes. Se este modo de reagir for, simbolicamente, generalizado a outros comportamentos, a criança desenvolverá, segundo Freud, um carácter anal-retentivo. Em termos psicológicos, esta fixação pode dar origem a um indivíduo caracterizado pela teimosia, mania da pontualidade, avareza, egoísmo e pela obsessão com a ordem e a limpeza. É importante notar que se for a mãe – como é ainda frequente – a “treinar” de forma severa a criança para ser asseada podem produzir-se sentimentos latentes de hostilidade em relação à “treinadora”. Eventualmente, a generalização dessa hostilidade pode tornar conflituosa e difícil e relação posterior com o género feminino.

        Mas a criança pode reagir às excessivas exigências de higiene e limpeza de outra forma: em vez de reter as fezes e de infligir sofrimento a si própria, revolta-se contra a dureza e repressão do treino, expelindo-as nos momentos menos apropriados. Freud fala, neste caso, por generalização simbólica, de carácter expulsivo-anal.

 

 

        Estádio Fálico (dos 3 aos 6 anos)

        Segundo Freud, a criança, a partir de determinada altura, desenvolve uma forte atracção sexual pelo progenitor do sexo oposto e sentimentos agressivos e de hostilidade em relação ao progenitor do mesmo sexo. É, no plano da fantasia e a nível inconsciente, a primeira experiência de amor heterossexual. No caso dos rapazes, o desejo de afastar o pai e de ficar com a mãe só para si é um conflito inconsciente denominado complexo de Édipo.

        O rapaz receia, tem pavor de que o pai castigue o seu desejo sexual pela mãe retaliando de forma severa. E que forma mais severa do que cortar o mal pela raiz? O rapaz teme que o seu pai o castre eliminando assim a base ou a fonte dos seus impulsos. Ao temor inconsciente de perder os órgãos genitais deu Freud o nome de “ansiedade de castração” ou “complexo de castração”. Esta fantasia da criança tem, de acordo com Freud, efeitos positivos: dá-se o recalcamento do desejo sexual incestuoso e forma-se um mecanismo de defesa chamado identificação. O rapaz irá imitar e interiorizar as atitudes e comportamentos do pai. Ser como o pai fará com que este pareça menos ameaçador. Identificando-se com o pai (com os aspectos desejáveis do pai) o rapaz transforma os seus perigosos impulsos eróticos em afecto inofensivo pela mãe ao mesmo tempo que, de uma forma indirecta, satizfaz os seus impulsos sexuais a respeito da mãe. Na verdade, a identificação com o pai tem subjacente uma limitação fundamental (só o pai pode ter relações sexuais com a mãe), embora, se certa forma simplesmente simbólica, permita ao rapaz, através do pai, ter acesso à mãe (quanto mais se parecer com ele mais facilmente se pode imaginar, inconscientemente, no lugar do pai).

        A limitação referida é interiorizada sob a forma de tabu do incesto para cuja formação contribuem o sentimento inconsciente de culpa desenvolvida pelo Superego e as restrições sociais. Freud sublinha que a repressão do complexo de Édipo ou, mais propriamente, a sua ultrapassagem marca a etapa final do desenvolvimento do Superego. Este será o herdeiro do complexo de Édipo e a instância que se ergue contra o incesto e a agressividade.

 

     

    Estádio de latência (dos 6 aos 11 anos)

        O estádio de latência é o período da vida dos 6 aos 11 anos marcado por um acontecimento significativo: a entrada na escola e a consequente ampliação do mundo social da criança. Recalcadas no inconsciente, as conturbadas experiências emocionais do estádio fálico não a parecem perturbar. É como se não tivessem acontecido. Esta amnésia infantil liberta a criança da pressão dos impulsos sexuais. A curiosidade da criança centra-se agora no mundo físico e social e não no seu corpo. A energia libidinal é, a bem dizer, sublimada, isto é, convertida em interesse intelectual e canalizada para as actividades escolares, as práticas desportivas, jogos e brincadeiras. Normalmente, o grupo de pares é constituído por crianças do mesmo sexo, uma escolha que reforça a identidade sexual da criança. A ultrapassagem bem sucedida deste estádio é possível se a criança, agora mais independente dos pais no plano afectivo, desenvolver um certo grau de competência nas actividades que a atraem e naquelas que lhe são socialmente impostas.

        Vários intérpretes de Freud consideram que o estádio de latência é mais uma pausa do que um período de desenvolvimento psicossexual (não há nenhuma área específica do corpo do corpo que pose ser destacada como zona erógena e nenhum conflito psicossexual). Outras interpretações sugerem que nesta fase, sobre a qual Freud pouco disse, as crianças aprendem a esconder a sua sexualidade do olhar desaprovador dos adultos. Seja como for, a relativa emancipação em relação ao universo familiar prepara o caminho para que o afecto e a atracção sexual assumam uma forma adulta.

              No final deste estádio o aparelho psíquico está completamente formado.

 

 

        O estádio genital (após puberdade)

         Na adolescência, em virtude da maturação do aparelho genital e da produção de hormonas sexuais, renascem ou reactivam-se os impulsos sexuais e agressivos. Em estádios anteriores, o indivíduo obtinha satisfação erótica mediante a estimulação e manipulação de determinadas zonas do seu corpo. Embora no estádio fálico a sexualidade auto-erótica comece a ser superada, ela ainda não está orientada de uma forma realista e socialmente aprovada. Manifesta-se para ser reprimida. Além disso, tudo se passa na imaginação fantasista da criança.

        O estádio genital é um período em que conflitos de estádios anteriores podem ser revividos. Freud dá importância especial à reactivação do complexo de Édipo e à sua liquidação. A passagem da sexualidade infantil à sexualidade madura exige que as escolhas sexuais se façam, de forma realista e segundo a norma cultural, fora do universo familiar, sendo os pais suprimidos enquanto objectos da libido ou do impulso sexual.

        Se os conflitos característicos de estádios anteriores do desenvolvimento anterior forem resolvidos de forma satisfatória, o indivíduo entra no último estádio psicossexual com a libido organizada em torno dos órgãos genitais e assim permanecerá toda a vida. A qualidade da gratificação sexual durante o estádio genital difere significativamente da de estádios anteriores. Na verdade, os primeiros afectos e ligações infantis eram essencialmente narcisistas: a criança estava unicamente interessada no seu próprio prazer erótico. No estádio genital – que estabelece a fusão e integração dos impulsos pré-genitais – desenvolve-se o desejo pela gratificação sexual mútua, a capacidade de amar e de partilhar o prazer. Segundo Freud, o estádio genital é o ponto de chegada de uma longa viagem, desde a sexualidade auto-erótica à sexualidade realisticamente orientada, característica do indivíduo socializado.

        A sublimação é especialmente importante neste período porque os impulsos do ID (egoístas e agressivos) continuam e continuarão activos. A sublimação significará transformar os impulsos libidinais convertendo-os em energia útil para o casamento, a educação dos filhos e o desempenho profissional.


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